A Apple, que confirmou oficialmente seus planos de introduzir um sistema de digitalização de fotos nos telefones dos usuários, enfrentou enorme descontentamento público. Os próprios funcionários da empresa também passaram a se preocupar seriamente com a iniciativa.

Fonte: cnbc.com

Um alto nível de sigilo sempre fez parte da cultura corporativa da Apple, os representantes da empresa nunca comentaram sobre os produtos planejados e praticamente tudo o que acontece dentro de suas paredes. No entanto, discussões animadas por funcionários da Apple sobre a iniciativa de digitalizar fotos personalizadas não parecem ter sido ocultadas. Vários funcionários da empresa, sob condição de anonimato, compartilharam alguns detalhes com a Reuters.

A discussão da inovação, em particular, ocorreu no mensageiro corporativo Slack. Os funcionários da Apple deixaram mais de 800 mensagens expressando suas preocupações. Muitos expressaram temor de que essa função possa ser usada por departamentos governamentais repressivos em todo o mundo, e os dispositivos não procurarão materiais relacionados ao abuso infantil, mas por razões para levar pessoas não queridas e dissidentes à justiça. Outros funcionários acreditam que a Apple está prejudicando sua reputação, porque, de acordo com as garantias da empresa, a privacidade do usuário está acima de tudo.

Apesar de a discussão ter contado com colaboradores da empresa que não estão relacionados com questões de segurança e privacidade, pode-se supor que o halo de sigilo que antes envolvia a Apple está agora a sofrer algumas alterações. Os funcionários da empresa começaram a usar o Slack Messenger há vários anos, mas ele ganhou popularidade especial na Apple com o advento da pandemia. Depois de passar para o trabalho remoto, os trabalhadores mantiveram contato entre si e se comunicaram não apenas sobre questões de produção, mas também, por exemplo, trocaram receitas culinárias. Agora, o mensageiro também começou a ser usado para discussões sérias.

Porém, no tópico dedicado à inovação, alguns se manifestaram contra as críticas à empresa, enquanto outros chamaram o Slack de plataforma inadequada para discussão. Os oficiais de segurança não foram muito ativos na discussão, outros até consideraram a decisão da Apple uma resposta razoável à pressão externa em relação a materiais ilegais. Também foi sugerido que escanear os materiais do usuário permitiria à empresa implementar criptografia de ponta a ponta no iCloud, uma mudança que os usuários há muito aguardavam.

A iniciativa da Apple gerou uma tempestade de ressentimento não apenas em seus próprios funcionários. Numerosos ativistas e cidadãos comuns assinam e publicam cartas abertas ao fabricante. Outros lembram a história de 2016, quando a Apple se recusou a cumprir uma ordem judicial e desenvolver uma ferramenta para fazer o jailbreak de um iPhone pertencente a um suspeito de terrorismo. Em seguida, a empresa disse que tal ferramenta inevitavelmente será usada para outros fins.

Em outras questões, a Apple frequentemente atende departamentos governamentais no meio do caminho. Por exemplo, sob pressão do FBI, ela foi forçada a abandonar a implementação da criptografia ponta a ponta no iCloud. A empresa também concordou em armazenar os dados de usuários chineses na RPC.

A introdução da função de digitalização de fotos personalizadas começará nos Estados Unidos, após o qual outros países serão incluídos no projeto. E embora a Apple afirme que o recurso só vai abordar o abuso infantil, na prática as coisas podem ser diferentes. Por exemplo, no Reino Unido e na Austrália existem leis segundo as quais as empresas são obrigadas a fornecer “assistência técnica” à polícia e outras agências de aplicação da lei na investigação de crimes.

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