O futuro do serviço de vídeos curtos TikTok nos EUA, onde tem 170 milhões de usuários, está agora nas mãos de três juízes. E nas argumentações orais do dia anterior, eles expressaram ceticismo em relação ao caso da plataforma.
A ação foi movida por advogados do próprio TikTok e um grupo de blogueiros – eles buscam bloquear uma lei aprovada pelo Congresso americano e assinada pelo presidente, que pode levar ao bloqueio da plataforma no país. Os demandantes apresentaram seu caso perante um painel de três juízes do Tribunal de Apelações do Circuito de D.C. A lei prevê a apreensão da plataforma de sua dona, a chinesa ByteDance, até 19 de janeiro, e a empresa acredita que essa disposição é, na verdade, um bloqueio velado do serviço – suprimirá a liberdade de expressão de blogueiros e usuários do TikTok, e também limitará a quantidade de informações que os americanos podem receber.
Representantes do Ministério da Justiça falaram ao lado da defesa. Segundo eles, a lei é um pacote de medidas direcionadas contra uma empresa que representa uma ameaça à segurança nacional dos EUA, uma vez que está supostamente sujeita à influência de um Estado hostil. Dois dos juízes que compuseram o painel ouviram os argumentos e o terceiro fez perguntas aos representantes de ambos os lados. Os juízes expressaram dúvidas sobre a conveniência de medidas mitigadoras contra o TikTok – eles consideram insuficiente a divulgação de seus dados e métodos de moderação de conteúdo pela administração da plataforma. O pacote de medidas depende da confiança na própria empresa, que o governo teme ser uma ferramenta nas mãos de um adversário estrangeiro obscuro.
O juiz Douglas Ginsburg, nomeado pelo ex-presidente Ronald Reagan, rejeitou a afirmação do advogado da TikTok, Andrew Pincus, de que a lei foi projetada para atingir uma empresa. Segundo o juiz, o documento identifica uma categoria de empresas controladas por Estados hostis e nomeia especificamente aquela para a qual existe uma necessidade urgente de tomar medidas – com base em vários anos de negociações que o governo conduziu e que não levaram a nada.
Falando em nome dos blogueiros do TikTok, Jeffrey Fisher disse que a lei poderia limitar a capacidade dos americanos de participarem na produção de conteúdo para empresas estrangeiras, incluindo Politico, Spotify e BBC. Os juízes reconheceram que a Primeira Emenda da Constituição dos EUA, que garante a liberdade de expressão, se aplica ao TikTok e ao proprietário da plataforma ByteDance, mas esse direito não é objeto da lei em questão. Representantes do governo tentaram mostrar ao tribunal alguns documentos secretos, cuja divulgação poderia prejudicar a segurança nacional do país, mas esses documentos nunca foram apresentados durante as alegações orais. Em vez disso, as partes e o tribunal estavam decidindo até que ponto a Primeira Emenda poderia ser aplicada ao caso e como avaliar o papel do proprietário estrangeiro no TikTok.
A porta-voz do grupo de blogueiros, Kiera Spann, disse durante um briefing após a audiência que considerava a plataforma a “fonte de informação menos censurada e mais confiável”; na opinião dela, as conversas que acontecem no TikTok não acontecem em nenhuma outra rede social.