Os cientistas estão mais perto de compreender as razões da temperatura incrivelmente elevada da atmosfera do Sol, atingindo um milhão de graus, o que é 150 vezes superior à temperatura da superfície da estrela. Graças a uma colaboração única entre a sonda Solar Orbiter e a Parker Solar Probe, bem como à manobra incomum desta última, os cientistas obtiveram dados que podem lançar luz sobre este mistério de proporções cósmicas de 65 anos.

Fonte da imagem: ESA/NASA

A coroa solar, a camada externa, mais fina e mais quente da atmosfera do Sol, composta por plasma, há muito intriga os cientistas com sua temperatura anômala, atingindo um milhão de graus Celsius. Isto é 150 vezes maior que a temperatura da superfície da própria estrela. Esse fenômeno parecia ilógico, porque quanto mais longe você estiver da fonte de calor, mais frio deveria estar.

Para resolver este mistério, os cientistas voltaram a sua atenção para o processo de turbulência, que se acredita desempenhar um papel fundamental no aquecimento da coroa solar. Esse processo pode ser comparado a mexer o café em uma xícara: como resultado de movimentos turbulentos, a energia passa de escalas grandes para escalas menores, até a interação com partículas individuais, principalmente prótons, aquecendo-as. Essa interação é potencializada pelos campos magnéticos presentes na coroa, que podem servir como fonte adicional de energia para aquecer o plasma.

Para estudar esse fenômeno em detalhes, foram utilizadas as espaçonaves Solar Orbiter e Parker Solar Probe. O primeiro deles, trabalhando em conjunto com a Parker Solar Probe, realizou tanto sensoriamento remoto quanto medições diretas perto do Sol, permitindo aos cientistas obter uma imagem mais completa dos processos que ocorrem.

O ponto-chave do estudo foi a manobra Solar Orbiter, que incluiu uma curva de 45 graus e um desvio do curso original. Isso permitiu que o dispositivo se concentrasse em uma área específica e sincronizasse com a Parker Solar Probe para coleta conjunta de dados. Daniele Telloni, do Instituto Nacional Italiano de Astrofísica (INAF), observou que tal manobra representava algum risco, mas graças a ela os cientistas conseguiram obter dados únicos.

Comparando as novas medições com as previsões teóricas feitas por físicos que estudam o Sol há anos, Telloni relatou que os físicos estavam quase certamente corretos ao identificar a turbulência como um modo de transferência de energia.

Os resultados do estudo permitiram dar um passo significativo na compreensão dos processos que ocorrem na coroa solar. “Este trabalho abre uma dimensão totalmente nova para esta investigação”, diz Gary Zank, da Universidade do Alabama em Huntsville, EUA.

Agora os cientistas têm a oportunidade não apenas de confirmar a teoria de longa data sobre o papel da turbulência no aquecimento da coroa, mas também de estudar detalhadamente os mecanismos desse processo. Esta descoberta será certamente um marco na história da astrofísica, abrindo novos horizontes para futuras pesquisas. “Este trabalho representa um avanço significativo na resolução do problema do aquecimento corona”, disse Daniel Müller, cientista do projeto.

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