A produção e o consumo de biocombustíveis estão crescendo em todo o mundo. Acredita-se que o combustível à base de matérias-primas vegetais cause menos danos ao meio ambiente, incluindo a redução de emissões nocivas para a atmosfera. De certa forma, os cálculos estão corretos, mas em algum lugar eles podem ser tendenciosos. Um estudo recente de um grupo de cientistas americanos mostrou que, por exemplo, o ciclo completo de obtenção e queima do bioetanol é mais prejudicial ao meio ambiente do que a produção e queima de gasolina.
O portal Global Energy, citando o trabalho de cientistas da Universidade de Wisconsin-Madison, da Universidade de Kansas, da Universidade de Kentucky e da Universidade da Califórnia, informou que durante todo o ciclo de obtenção e uso do bioetanol como combustível, as emissões nocivas na atmosfera ocorrem 24% a mais do que no caso de produção e uso para a mesma finalidade da gasolina convencional.
Para os Estados Unidos, onde o carro não é um luxo, mas o primeiro e massivo meio de transporte, o combustível automotivo é uma das questões mais delicadas. Desde 2006, os Estados Unidos vêm implementando um programa para introduzir padrões de combustível renovável (Renewable Fuel Standard, RFS). No âmbito do programa, foram formalizadas legalmente as normas de produção e consumo de diversos tipos de biocombustíveis, inclusive o bioetanol. Em 2006, o padrão era de 4 milhões de galões por ano (15 milhões de litros), e em 2022 a taxa aumentou para 36 milhões de galões (136 milhões de litros). O consumo real de combustível nos EUA em 2022 é projetado em 138 milhões de galões. Ou seja, a participação dos biocombustíveis será de aproximadamente 20%.
Durante o estudo, os cientistas analisaram não apenas as emissões de CO2 da combustão do bioetanol, mas também estudaram todas as etapas de sua produção, incluindo o cultivo de matérias-primas. Descobriu-se que o programa Renewable Fuel Standard levou a um aumento nos preços do milho de 2008 a 2016 em 30% e em 20% para outros grãos. No mesmo período, a área cultivada de matérias-primas aumentou 8,7% para o milho e 2,4% para outros cereais.
Isso levou a um aumento no uso de fertilizantes minerais de 3% para 8% e outros produtos químicos, que degradam a qualidade da água ao longo do caminho. Tudo somado aumentou as emissões das atividades agrícolas e fez com que o ciclo de produção do bioetanol fosse 24% pior em termos de emissões nocivas do que a produção e uso da gasolina.
Com tudo isso, a produção de biocombustíveis no mundo não vai parar. Um estudo e até mesmo uma série de artigos sobre este tema não são suficientes para tirar conclusões equilibradas. Outra coisa é que os estereótipos e o politicamente correto não têm lugar na ciência. Só é possível tomar a decisão certa ao estudar todos os lados da questão.