Há dez anos, a Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço dos EUA (NASA) selecionou a Boeing como um dos principais desenvolvedores de espaçonaves para transportar astronautas para a Estação Espacial Internacional. Agora está ficando cada vez mais claro que a empresa não terá tempo para realizar as seis missões tripuladas planejadas – mesmo um voo de teste terminará com o retorno da nave Starliner à Terra sem tripulação.
No momento da assinatura do acordo com a NASA, a Boeing recebeu financiamento no valor de 4,2 mil milhões de dólares e um contrato para realizar duas, e potencialmente seis, missões tripuladas associadas à rotação de astronautas entre a Terra e a ISS. Ao mesmo tempo, a SpaceX recebeu financiamento no valor de US$ 2,6 bilhões para realizar quase a mesma quantidade de trabalho.
Dez anos depois, o projeto Boeing estava numa encruzilhada depois que a NASA anunciou que a espaçonave Starliner retornaria à Terra sem tripulação. Os astronautas Butch Wilmore e Suni Williams, que foram lançados ao espaço na espaçonave Starliner em 5 de junho, terão que retornar à Terra na SpaceX Crew Dragon. Isto sugere que a NASA tem dúvidas sobre a capacidade da Boeing de trazer astronautas à Terra com segurança, o que é compreensível dada a quantidade de dificuldades que a Starliner encontrou durante o seu voo para a ISS.
O fracasso da Boeing em completar sua primeira missão de teste tripulada pode significar que ela não será capaz de completar seis missões para levar astronautas à ISS antes que a estação se aposente em 2030. Depois que a NASA anunciou que o Starliner retornaria à Terra sem tripulação, os representantes da Boeing não fizeram declarações oficiais. Ao mesmo tempo, a NASA garantiu que o fabricante ainda está envolvido no programa de voos espaciais tripulados. Vale ressaltar que, nos termos do contrato com a NASA, a Boeing é obrigada a pagar quaisquer custos associados à correção de problemas no motor e outros defeitos que serão exigidos antes que o Starliner possa retomar os voos.
As demonstrações financeiras da Boeing já incluíam US$ 1,6 bilhão em custos devido a atrasos e custos excessivos no programa Starliner. Obviamente, esse número aumentará, pois a empresa provavelmente terá que redesenhar alguns elementos do projeto do sistema do motor para corrigir problemas que surgiram durante a missão de teste de voo da tripulação. No total, a NASA alocou US$ 5,1 bilhões para o programa Starliner e a maior parte desse dinheiro já foi paga.
Se a Boeing conseguisse completar a missão de teste com sucesso, a primeira das seis missões para entregar astronautas à ISS poderia ocorrer em 2025. Agora, há uma grande probabilidade de que a espaçonave Starliner com astronautas decole não antes de 2026. Durante um voo de teste, o Starliner conseguiu entregar dois tripulantes à ISS em 6 de junho, mas 5 dos 28 motores do navio superaqueceram e falharam. Isso levou a NASA a se preocupar com a possibilidade de problemas semelhantes ou até mais sérios surgirem ao ajustar o curso na viagem de volta. Neste contexto, foi tomada a decisão de abandonar o uso do Starliner para devolver astronautas à Terra. Por conta disso, dois astronautas que deveriam passar 8 dias na ISS permanecerão na estação orbital por oito meses, após os quais retornarão à Terra na nave SpaceX Crew Dragon.
Funcionários da Boeing disseram repetidamente que o Starliner é seguro o suficiente para transportar Wilmore e Suni para a Terra. O chefe do programa Starliner da Boeing, Mark Nappi, tentou minimizar a gravidade do problema com o motor da espaçonave. No entanto, os engenheiros da NASA chegaram a conclusões diferentes. Isto provavelmente se deve ao fato de que muitos líderes da NASA voaram eles próprios para o espaço ou testemunharam a queda do ônibus espacial Columbia em 2003, quando sete astronautas morreram devido a problemas técnicos.
«Nós nos preocupamos com todos os nossos funcionários – se você tiver alguma objeção, fale. O voo espacial é arriscado, mesmo nos casos mais seguros e rotineiros. E um voo de teste, por natureza, não é seguro nem rotineiro. Portanto, a decisão de manter Butch e Suni a bordo da ISS e levar o Starliner para casa desenroscado é o resultado de um compromisso com a segurança”, disse o administrador da NASA, Bill Nelson, esta semana.
Embora a solução para trazer astronautas à Terra em uma nave SpaceX pareça simples, a NASA e a Boeing ainda têm perguntas a responder sobre como a missão Starliner acabou nesta situação. A agência espacial liberou a espaçonave para um voo de teste tripulado em junho, sabendo que havia um vazamento de hélio no sistema do motor. Durante o voo, esse problema se repetiu e vários motores de correção também falharam.
É curioso que durante o segundo vôo de teste do Starliner, durante o qual a nave sem tripulação chegou à ISS e retornou à Terra, também foram registrados problemas no funcionamento dos motores corrigindo a trajetória de vôo. Os engenheiros da Boeing pensaram ter resolvido o problema fazendo alterações no software usado para controlar o sistema do motor. Porém, na realidade, descobriu-se que o problema estava na vedação da válvula de Teflon, que incha quando superaquecida e limita o fluxo de combustível para o motor.
A NASA observou que os motores estão claramente operando a uma temperatura mais elevada do que aquela para a qual foram projetados. O porta-voz da agência também disse que os engenheiros deveriam ter analisado mais de perto os resultados do voo anterior do Starliner. Se isto tivesse sido feito em tempo hábil, os problemas que o navio encontrou durante a sua missão atual provavelmente teriam sido evitados.
Funcionários da NASA disseram esta semana que era muito cedo para tirar conclusões sobre a necessidade de um voo de teste adicional do Starliner. Independentemente da decisão final, é pouco provável que esperemos novas missões envolvendo a nave Boeing no próximo ano, uma vez que os engenheiros da empresa terão, de qualquer forma, de trabalhar para eliminar as deficiências identificadas. Durante este tempo, a NASA continuará a contar com as naves SpaceX para transportar astronautas para a ISS, uma vez que a empresa de Elon Musk já comprovou a fiabilidade da Crew Dragon.