O início de 2024 não foi dos mais bem-sucedidos para a empresa japonesa Fujitsu: a empresa voltou a ficar sob o radar do público britânico e da mídia devido a acontecimentos de um quarto de século atrás relacionados a graves deficiências em seu próprio software.
O interesse pelas atividades da empresa da Terra do Sol Nascente e pelos assuntos do passado foi alimentado pela série documental “Mr. Bates contra os Correios”, transmitida pelo canal de televisão britânico ITV, que conta como mais de 700 funcionários dos correios foram injustamente acusados de fraude, falsificação de documentos e roubo de fundos financeiros, embora a verdadeira causa tenha sido um bug no sistema Horizon IT, desenvolvido pela Fujitsu e amplamente utilizado nos correios do Reino Unido desde 1999.
A plataforma Horizon foi projetada para automatizar e simplificar os processos contábeis. Devido a uma falha crítica no código, o software manteve cálculos incorretos e registrou repetidamente deficiências, que os gerentes dos Correios atribuíram ao pessoal de campo. Ao mesmo tempo, a sede dos Correios acreditou na integridade dos instrumentos financeiros da Horizon e, ao longo dos anos, moveu ações judiciais contra gerentes de agências quando o sistema refletia incorretamente as deficiências. Alguns funcionários foram condenados à prisão, muitos perderam os seus meios de subsistência e enfrentaram a falência.
O incidente com a plataforma Horizon IT recebeu ampla publicidade apenas em 2021. Durante a investigação, descobriu-se que o número de vítimas de software incorreto chegava a milhares, e a empresa dos Correios sabia da falta de confiabilidade do software de contabilidade, mas os dados do sistema ainda eram usados para acusar o pessoal dos correios de criar falsos relatórios e roubo de fundos. Os funcionários injustamente acusados foram absolvidos, e os próprios Correios providenciaram o pagamento de uma indenização aos trabalhadores injustamente condenados por fraude como resultado da falha do Horizon.
É curioso que o incidente não tenha afetado de forma alguma as atividades da Fujitsu, que ainda continua a celebrar contratos multibilionários com agências governamentais do Reino Unido. É este facto que intensificou as actividades das organizações públicas e políticas do país, exigindo que a empresa japonesa seja responsabilizada pelas suas acções há 25 anos. Desta vez, é improvável que a Fujitsu consiga escapar impune e evitar batalhas legais – a escala dos danos causados é muito grande.
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