Uma equipe internacional de cientistas relatou a obtenção da primeira evidência direta de diferenças de temperatura entre o manto dos lados próximo e distante da Lua. Amostras para estudo foram obtidas durante a missão chinesa Chang’e-6 ao lado distante da Lua, que as trouxe de volta à Terra há pouco mais de um ano. O estudo foi conduzido em conjunto por cientistas chineses e britânicos. Seus resultados ajudarão a avançar nossa compreensão da geologia lunar.

Coleta de amostras do lado oculto da Lua em 26 de junho de 2024. Fonte da imagem: Xinhua
A missão chinesa Chang’e-6, que retornou com sucesso à Terra em junho de 2024, trouxe as primeiras amostras de rochas lunares do lado oculto da Lua. Essas amostras, coletadas da Cratera Apollo, na bacia do Polo Sul-Aitken, permitiram que cientistas confirmassem hipóteses previamente propostas sobre a natureza “bilateral” da Lua. Pesquisadores da University College London (UCL), da Universidade de Pequim, da Corporação Nuclear Nacional da China e de outras instituições analisaram aproximadamente 300 gramas de solo, incluindo basaltos com aproximadamente 2,8 bilhões de anos. Esta descoberta destaca as diferenças geológicas observadas entre os dois lados: o lado oculto da Lua é rico em crateras e montanhas, mas não possui as planícies basálticas escuras típicas do lado visível.
A análise mineral revelou assimetria térmica significativa: minerais do lado oculto se formaram em temperaturas do manto aproximadamente 100 °C mais baixas do que as do lado visível. Isso confirma dados anteriores sobre a distribuição desigual de elementos produtores de calor, como urânio, tório e potássio, frequentemente associados a fósforo e elementos de terras raras (KREEP). O enriquecimento de minerais KREEP no lado próximo, revelado por sensoriamento remoto, explica a maior atividade vulcânica e a crosta mais fina neste hemisfério. A equipe enfatizou que, até recentemente, a falta de amostras do lado distante limitava uma compreensão abrangente desses mecanismos.
A descoberta é fundamental para o estudo da formação e evolução da Lua.Explicando contrastes na topografia, história vulcânica e estrutura da crosta. Os resultados foram publicados em 30 de setembro na revista Nature Geoscience, onde afirmam, em parte: “O forte contraste entre os lados [da Lua] fornece insights cruciais sobre o manto lunar”. Ao fazer isso, os pesquisadores resolveram, em suas palavras, “um dos maiores mistérios da Lua”, observando que a hipótese da diferença de temperatura agora é apoiada por amostras reais. A missão Chang’e-6 também revelou anteriormente vestígios de um impacto colossal de asteroide há mais de 4 bilhões de anos, o que pode ter alterado a estrutura interna do lado oculto.
Apesar desse progresso, a origem da assimetria térmica permanece sem solução e requer mais pesquisas. Cientistas sugerem que os dois lados da Lua evoluíram de forma diferente ao longo de grande parte de sua história, com um manto mais frio no lado oculto, consistente com diferenças na espessura da crosta. Essas descobertas abrem novos caminhos para futuras missões, incluindo o estudo dos processos internos da Lua. No geral, a Chang’e-6 confirmou a singularidade do lado oculto da Lua, que é inacessível à observação direta da Terra, e melhorou nossa compreensão geral da geologia do nosso satélite.
