Esta semana, a estrutura de um radiotelescópio único foi enviada por mar da China para o Brasil. Ele estudará as propriedades da energia escura e revelará outros segredos do Universo. Esta foi a etapa final da fabricação de instrumentos astrofísicos para o projeto BINGO. O radiotelescópio será montado no Brasil, longe da civilização, para minimizar o impacto da interferência na operação dos dispositivos supersensíveis.
Impressão artística do radiotelescópio BINGO. Crédito da imagem: Colaboração BINGO
O rascunho do projeto BINGO foi apresentado em 2011. Naquela época, apenas 13 anos haviam se passado desde a descoberta da energia escura – uma força desconhecida que “empurra” galáxias não gravitacionais para longe umas das outras e acelera a expansão do nosso Universo. Hoje, é um dos mistérios mais importantes do universo, que está longe de ser revelado. Acredita-se que a energia escura componha 68% de toda a matéria do Universo. O radiotelescópio BINGO deverá ajudar a estudá-la.
O BINGO é um projeto conjunto entre Brasil e China. A colaboração é liderada pelo renomado astrofísico brasileiro Carlos Alexandre Wuensche de Souza, pesquisador sênior do departamento de astrofísica do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). O projeto e a fabricação do radiotelescópio foram realizados por cientistas chineses, que priorizaram a facilidade de montagem da estrutura no local.
O radiotelescópio consiste em uma antena em forma de copo de 40 metros e 28 “chifres” – um conjunto de antenas menores. O sistema foi projetado para uma cobertura bastante ampla do céu e, ao mesmo tempo, para uma série de medições bastante detalhadas no campo de observação. O dispositivo registrará oscilações acústicas bariônicas obtidas como resultado de observações complexas de gás neutro.
As oscilações acústicas bariônicas surgiram aproximadamente 380 mil anos após o Big Bang, durante a compressão e expansão das regiões do plasma. Elas distribuíram a matéria no espaço de acordo com uma lei específica e, desde então, isso se tornou uma espécie de marca registrada das oscilações, que se reflete, por exemplo, na distribuição das galáxias. Em essência, trata-se de uma espécie de régua cósmica para determinar distâncias no Universo. Os dados do BINGO ajudarão a estimar a velocidade e a extensão da expansão do Universo com alta precisão e, portanto, poderão contribuir para a obtenção de um conjunto mais preciso de características da energia escura.
A antena principal do radiotelescópio BINGO chegará ao Brasil em cerca de dois meses. O radiotelescópio será construído a 2.000 km da capital do país e entrará em operação em 2026.