A banda de rock psicodélico The Velvet Sundown acumulou mais de um milhão de ouvintes mensais no Spotify, ganhando milhares de dólares em receita de streaming e forçando a indústria musical a fazer perguntas difíceis: não se trata de trazer de volta os anos 1970, mas de ser um produto de IA generativa.

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A descrição atual do Velvet Sundown no Spotify o descreve como “um projeto de música sintética criado sob controle criativo humano; escrito, pontuado e renderizado com IA”. A indústria musical tem se mostrado hostil à chegada da IA, com especialistas descrevendo a música do projeto como “sem alma”, “sufocante” e “assustadora”.
A tarefa de gerar música está se tornando cada vez mais fácil: a IA está sendo integrada a softwares especializados, e serviços como Suno e Udio estão surgindo, permitindo criar composições inteiras com base em consultas de texto. E The Velvet Sundown está longe de ser o único projeto musical gerado por IA a aparecer na internet. O Spotify tem um artista country sombrio, Aventhis, com mais de 600.000 ouvintes mensais, cujas vozes e instrumentos são inteiramente gerados por IA; o serviço francês de streaming de música Deezer lançou uma ferramenta para reconhecer músicas criadas por IA em janeiro e relatou em abril que cerca de 18% das músicas carregadas na plataforma são inteiramente geradas por IA.
A qualidade e a originalidade da música gerada por IA têm sido criticadas, mas especialistas entrevistados pela CNBC reconhecem que, à medida que a IA generativa avança, está se tornando cada vez mais difícil para o ouvinte médio distinguir entre um humano e uma máquina. The Velvet Sundown é um exemplo disso: a música dessa banda virtual é de qualidade muito superior à da maioria das obras de IA já publicadas. Enquanto antes os geradores se limitavam a temas cativantes e repetitivos, agora essas músicas possuem uma estrutura semântica com versos, refrões e transições.

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E isso é apenas a ponta do iceberg: os serviços de IA Suno e Udio, que estabeleceram o padrão ouro para plataformas semelhantes, reduziram a barreira de entrada para usuários a zero. Qualquer pessoa pode criar centenas de músicas; ambas as plataformas oferecem acesso gratuito e assinaturas premium por US$ 30 por mês ou menos. A criação de músicas com IA pode ser gratuita — e lucrativa: estima-se que o Velvet Sundown tenha arrecadado US$ 34.235 em todas as plataformas em 30 dias. É fácil entender por que os criadores de música com IA estão ansiosos para inundar os serviços de streaming com enormes quantidades de conteúdo gerado na esperança de um sucesso viral.
Isso já causou comoção na indústria musical. Milhares de músicos e criadores estão pedindo a proibição do uso de obras criadas por humanos para treinar IA sem permissão prévia. Grandes gravadoras, incluindo Sony Music, Universal Music Group e Warner Records, estão tentando processar a Suno e a Udio, acusando-as de violação massiva de direitos autorais. Mas especialistas afirmam que a IA generativa na música veio para ficar, e os modelos de negócios estabelecidos podem ter que mudar novamente.
O mercado da música já passou por grandes rupturas tecnológicas, com o Napster em 1999 e a ascensão das plataformas de streaming nos anos 2000. Mas a perspectiva de competir com bandas virtuais é uma preocupação para aspirantes a músicos, que já enfrentam dificuldades para ganhar popularidade e lucrar com música online. Para preparar jovens artistas para as duras realidades da indústria musical, educadores estão cada vez mais incorporando IA em seus currículos, com o objetivo de ensiná-los a usar tecnologia de ponta para aprimorar seu processo criativo enquanto fazem música, em vez de substituir completamente as soluções tradicionais. O renomado produtor musical Timbaland lançou um projeto musical focado em IA chamado Stage Zero, que contará com uma estrela virtual.
Esta não é a última iniciativa do gênero, alertam especialistas, e músicos tradicionais encontrarão cada vez mais dificuldades para ganhar dinheiro online. O problema não se limita à indústria musical: o conteúdo gerado por IA está ganhando presença no campo da informação, inclusive nas redes sociais, dificultando a comunicação entre as pessoas. Artistas exigem que músicas geradas por IA sejam devidamente rotuladas nas plataformas, mas o Spotify ainda não respondeu a esses apelos.
