Grandes investidores, assustados com o entusiasmo excessivo em torno da IA, mas cautelosos em apostar contra ela, estão adotando a estratégia da era pontocom da década de 1990, que ajudou algumas empresas a evitar o colapso. Eles precisam equilibrar os lucros perdidos ao abandonar os investimentos em IA precocemente com o risco potencial de falência em uma possível quebra do mercado.

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As ações de tecnologia dos EUA estão quebrando recordes uma após a outra, com o valor da fabricante de chips de IA Nvidia ultrapassando US$ 4,5 trilhões. Nesse cenário, investidores profissionais buscam maneiras de lucrar com o mercado em crescimento, evitando riscos excessivos. Muitos participantes do mercado se lembram do boom da internet na década de 1990, que se estendeu de startups a telecomunicações e tecnologia. Naquela época, alguns fundos de hedge aproveitaram a onda, vendendo ações de alto rendimento antes do pico.
“Estamos fazendo o que funcionou de 1998 a 2000”, disse Francesco Sandrini, chefe de ativos diversificados e CIO da Amundi. Ele observou sinais de otimismo irracional em Wall Street, como a negociação frenética de opções de risco atreladas aos preços das ações de grandes empresas de IA.

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Ainda assim, ele espera que esse “entusiasmo tecnológico” continue e espera lucrar apostando em ativos com preços razoáveis e potencial de crescimento no futuro. Essa abordagem, segundo Sandrini, envolve buscar “oportunidades de crescimento máximo que o mercado ainda não identificou”, com foco em software, robótica e tecnologia asiática.
“A probabilidade de esse boom da IA se transformar em um colapso é muito alta, já que as empresas estão gastando trilhões e competindo pelo mesmo mercado que ainda não existe”, afirma Simon Edelsten, CIO da Goshawk Asset Management. Ele acredita que a próxima fase da febre da IA se espalhará de empresas como Nvidia, Microsoft e Alphabet para setores adjacentes.
Um estudo sobre a bolha das pontocom da década de 1990, realizado pelos economistas Markus Brunnermeir e Stefan Nagel, constatou que fundos de hedge bem-sucedidos evitaram, em grande parte, apostar na quebra das pontocom, mas, em vez disso, capitalizaram-na para superar o mercado em cerca de 4,5% por trimestre, de 1998 a 2000, evitando os piores efeitos da crise. Eles prontamente se desfizeram de ações supervalorizadas de empresas de internet e redirecionaram seus lucros para outros ativos antes que atraíssem a atenção de investidores menos sofisticados.
Muitos analistas acreditam que a situação atual é semelhante à do mercado financeiro em 1999. No entanto, eles observam que mesmo em 2000, quando o mercado atingiu o pico, era possível obter bons lucros. Segundo um ditado popular, durante uma corrida do ouro, a coisa mais lucrativa e confiável a se fazer é vender ferramentas para garimpeiros.Por isso, especialistas recomendam priorizar empresas de consultoria e robótica.
Muitos investidores também estão tentando capitalizar os trilhões de dólares que grandes empresas de tecnologia, como Amazon, Microsoft e Alphabet, estão investindo em data centers de IA e chips avançados, sem assumir nenhum compromisso direto com essas empresas. Alguns apostam no urânio, antecipando a construção de novas usinas nucleares para alimentar data centers, enquanto outros planejam lucrar com o fornecimento de materiais de embalagem para fabricantes de chips.
Ao mesmo tempo, gestores de ativos estão preocupados que a pressa em construir data centers possa levar a um excesso de capacidade, como aconteceu durante o boom da fibra óptica no setor de telecomunicações. Embora as principais ações de IA continuem subindo, muitos investidores veem a situação atual como sinais de uma bolha e estão diversificando seus riscos investindo em ações de tecnologia chinesas ou adquirindo ativos europeus e de saúde. Todos os analistas concordam em uma coisa: é impossível prever quanto tempo durará o entusiasmo em torno da IA.
