A primeira medida da Dinamarca desde que assumiu a presidência da UE foi reintroduzir o projeto de lei de Controle de Chats. A primeira-ministra Mette Frederiksen está ansiosa para garantir que ele seja aprovado até meados de outubro, relata o Brussels Signal. Ele tornará a criptografia em mensageiros inutilizável, mesmo de ponta a ponta.

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Formalmente, a iniciativa visa combater a disseminação de materiais de abuso infantil. Mas por trás desse nobre objetivo escondem-se meios duvidosos: a lei exige a varredura automática de toda a correspondência pessoal de cidadãos na região, inclusive em aplicativos protegidos por criptografia de ponta a ponta. Alguns acreditam que isso representa uma ameaça à privacidade, à soberania nacional dos países e, ao que parece, aos princípios fundamentais da própria UE.

O projeto de lei foi apresentado pela primeira vez em maio de 2022. Se aprovado, serviços populares de mensagens instantâneas, como WhatsApp, Signal e Telegram, seriam obrigados a escanear textos, imagens e vídeos em busca de material de abuso infantil, e a criptografia na plataforma não seria considerada um motivo para ignorar a lei. As medidas se aplicariam a todos os cidadãos, independentemente de serem suspeitos de qualquer atividade ilegal. O projeto de lei conta com o apoio de Copenhague e da Comissão Europeia, e a Sra. Frederiksen, como nova presidente do Conselho da União Europeia, fez da iniciativa um pilar de sua agenda.

A iniciativa baseia-se num mecanismo de digitalização de materiais no lado do cliente, ou seja, diretamente no dispositivo do utilizador, antes de serem encriptados e enviados. Até à data, 19 países da UE manifestaram-se a favor do projeto de lei. A Alemanha ainda não se comprometeu com isso e, se isso acontecer, 15 países, representando 65% da população da UE, votarão a favor do projeto de lei – com maioria qualificada, o projeto será efetivamente aprovado até meados de outubro. Até 12 de setembro, os grupos de trabalho do Conselho pretendem finalmente chegar a um acordo sobre as suas posições.

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Ativistas de direitos humanos estão soando o alarme. Eles acreditam que o mecanismo de escaneamento do lado do cliente viola a Carta dos Direitos Humanos da União Europeia, em particular os artigos 7º e 8º, que garantem o direito à privacidade da correspondência e aos dados pessoais. O Tribunal Europeu de Direitos Humanos já se pronunciou contra medidas que visam enfraquecer a criptografia, mas a iniciativa dinamarquesa ainda está sendo discutida. Isso ignora tanto a decisão do tribunal quanto o princípio da subsidiariedade, segundo o qual a regulamentação das comunicações digitais deve ser feita em nível nacional.

A iniciativa também pode ter consequências em escala global, levando autoridades de outras regiões e países a adotarem normas semelhantes. A ideia de escaneamento local de materiais, segundo ativistas de direitos humanos, não resiste a críticas – correspondências pessoais estão sujeitas à vigilância estatal, e surgem vulnerabilidades que hackers e representantes de Estados hostis podem explorar. Não se pode descartar um cenário em que os motivos para o escaneamento de conteúdo em dispositivos de cidadãos vão além do abuso infantil.

Notavelmente, de acordo com a Europol, criminosos sofisticados estão usando plataformas secretas e não regulamentadas, e os mecanismos de varredura propostos pela UE são ineficazes no caso deles. E o aplicativo de mensagens Signal, focado em privacidade e legítimo, ameaçou sair do mercado europeu em vez de abandonar seu mecanismo de criptografia, o que poderia levar os cidadãos locais a alternativas menos seguras, prejudicando a economia digital europeia.

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